domingo, agosto 05, 2007

Posted on 8/05/2007 10:48:00 PM by Polêmicas Contemporâneas

Sexualidade e Diálogo1

Élida Cristina Santos da Silva2


Apesar de hoje em dia muito se falar em sexo, preservativos, aborto, estupro, Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, a sexualidade humana ainda permanece rodeada de preconceitos e tabus. Sexualidade, aqui não deve ser entendida como sinônimo de sexo ou relação sexual. Ela diz respeito a todas as formas, jeitos e maneiras de manifestação e busca de prazer, manifestadas na integralidade do ser humano. O sexo é somente uma das expressões da sexualidade, o que não quer dizer que ele não seja importante. Contudo, quando se restringe à sexualidade apenas, ao sexo deixa de ter intrincado a complexidade desse tema.

Durante muito tempo a sociedade, de maneira geral, permaneceu fechada para tratar de temas referentes à sexualidade, o que acabou contribuindo para o elevado número de gravidez precoce, abortos, mortes de mulheres, formulação de mitos a respeito da masturbação, do homossexualismo e produção de comportamentos discriminatórios e outras violências contra mulheres e homossexuais. A família se negou a tratar do tema, sob alegação de que a instituição familiar não deveria se envolver nessas questões. A igreja sempre condenou algumas práticas como aborto, homossexualismo e sexo antes do casamento, mas pouco abriu espaço para uma discussão de forma democrática sobre tais assuntos. A escola, instituição incumbida de oferecer informação sistematizada sobre diversos temas, dentre eles, a sexualidade, não conseguiu dar conta de tamanha responsabilidade.

Atualmente, apesar de tantas informações veiculadas pela mídia a respeito de temas como sexo, homossexualismo, doenças sexualmente transmissíveis. A sexualidade ainda é pouco discutida. Na família o dialogo ainda é pobre ou inexistente, na escola o debate continua tímido e quando ocorre é mais voltado para os aspectos biológicos ligados a reprodução. Isso se deve ao fato de muitos pais, professores e profissionais de saúde sentirem-se despreparados para discutir sexualidade, preferindo cercá-la de mitos e preconceitos ou fazer de conta que nada está acontecendo.

Dentro deste contexto é imprescindível refletir sobre sexualidade, visualizando-a como algo que faz parte da integralidade do ser humano e que se manifesta em todas as fases da vida (infância, adolescência, idade adulta, velhice), de diferentes maneiras e formas. A sexualidade é parte inerente do processo de desenvolvimento da personalidade e precisa ser discutida em ambientes informativos, democráticos, livres de preconceitos e opiniões arbitrárias. Pois, compreender a sexualidade é perceber as relações desiguais que se estabelecem entre homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais. É desconstruir preconceitos e mitos sobre sexo e homossexualidade.

É imprescindível que a escola trabalhe com educação sexual, não restringindo os seus ensinamentos a aspectos reprodutivos, mas que repense as dimensões esquecidas como identidade, papel e orientação sexual (homossexual, bissexual e heterossexual), visões distorcidas ou negadas da sexualidade. E que promova um ambiente democrático para questões referentes a este tema sejam abordadas com seriedade e respeito. No entanto a escola não pode e não deve substituir a família. A criança não chega à escola vazia, ela já possui conhecimentos acerca do sexo e da sexualidade.Em casa a criança precisa contar com um ambiente educativo, acolhedor e encorajador de levantamento de questionamentos e dúvidas e desenvolvimento de uma sexualidade saudável.

Enfim, o desafio que surge é o de criar uma educação sexual que comece na família, que tenha continuidade na escola e que ultrapasse os muros da mesma, trazendo para o centro das discussões assuntos referentes à sexualidade que por muito tempo permaneceram velados. Uma educação sexual para formação da autoconsciência, dos valores internos e da responsabilidade consigo mesmo e com o outro.



1 Trabalho apresentado a EDC 321 TEE – Polêmicas Contemporâneas.

2 Graduanda do curso de pedagogia da Universidade Federal da Bahia.

E-mail: elidaelen@yahoo.com.br

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