domingo, agosto 05, 2007

Posted on 8/05/2007 10:52:00 PM by Polêmicas Contemporâneas

Violência à propriedade urbana


Simone Camargo Cerqueira


As grades do condomínio são para trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão...”. Esse é um trecho da música Minha Alma, do grupo carioca O Rappa, nela, o compositor retrata a insegurança generalizada da população urbana nas grandes cidades do Brasil, diante de ousadas investidas de criminosos que, inspirados na falta de policiamento nas ruas, inovam suas técnicas de delitos e tiram o sono da população.

Não estamos mais no tempo dos cães de guarda, dos cacos de vidro nos muros altos, não adiantam mais, esses obstáculos já foram driblados pela astúcia dos marginais. Interfones, grades, cercas elétricas e sensores com infravermelho são os recursos mais modernos usados pelos moradores de localidades distintas, com diferente realidade social, porém, podemos destacar que a ação dos marginais é democrática, atinge o pobre e o rico.

Os criminosos se reciclam, aprendem novas técnicas e atacam a sociedade. Esta, temente, se prepara como pode às investidas do inimigo. Na periferia, onde o policiamento é mais precário ainda, vale tudo, muitas grades, cães, portões de madeira, caco de vidro e até segurança clandestina, oferecida muitas vezes por um grupo de criminosos ou de pessoas comandadas por um policial, o preço pela sensação de “segurança” varia entre 10 e 20 reais por residência. Conforme o Sindicato dos Vigilantes, só em Salvador são mais de 30 mil pessoas que agem na clandestinidade, uma proteção arriscada, como afirma o presidente da referida entidade, José Boaventura Santos.

Nos bairros mais nobres as coisas mudam de figura no que diz respeito à tecnologia no combate ao crime, portaria eletrônica, detector de metais, sensores de calor, portas e vidros blindados dentre outras parafernálias modernas que prometem deixar o seu consumidor mais seguro. Nos últimos dois anos, em Salvador, a procura por dispositivos eletrônicos de segurança patrimonial aumentou 50%, segundo Nilton José da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Segurança – ABSEG – seção Bahia. O medo e a falta de confiança nos poderes públicos no que diz respeito à obrigação da manutenção da ordem e segurança são as principais justificativas dessa procura exacerbada por proteção.

Para Joviniano Neto, sociólogo e professor de Ciência Política e da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a sociedade vive a cultura do medo e do isolacionismo urbano. “Cada vez mais o cidadão se sente inseguro e fica refém dos equipamentos de segurança, buscando meios de se isolar, defender-se com pode e por conta própria, o que é seu”, comenta.

Os valores são, mais uma vez, invertidos, a sociedade que tem direito à segurança, troca pelo cárcere em seu próprio lar, quem vai para traz das grades é o povo. E a música do Rappa segue: “A paz sem voz, e paz sem voz para mim é medo”.








Fontes:


Jornal À Tarde, 25 de fev de 2007

Minha Alma, O Rappa – Álbum: Lado B lado A

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