domingo, agosto 05, 2007
Para além do “a favor” ou do “contra” - Daiane Galvão
No meio das discussões sobre legalidade e ilegalidade das drogas pode-se identificar ações que trazem um olhar diferenciado sobre a questão das substâncias psicoativas ilícitas ultrapassando, assim, os reducionismos ideológicos que geralmente permeiam esse tema tão polêmico.
São ações destituídas de preconceitos e que não pendem nem para um lado, nem para o outro, mas que nem por isso permanecem em “cima do muro”, pois, vão muito além da simples dicotomia do a favor ou do contra; da legalidade ou da ilegalidade; da criminalização ou da não-criminalização. Enfim, traz à tona questões que, muitas vezes, não são consideradas como fundamentais quando se fala em drogas.
Independentemente da permanência da proibição das drogas ilícitas ou da implantação de sua legalização, os usuários de drogas estão aí e vão continuar existindo. Apesar de toda política de combate às drogas, como cidadãos, eles têm o direito à liberdade de escolha e, se escolhem consumir drogas é preciso reconhecer essa opção sendo fundamental, portanto, buscar alternativas que miniminizem os impactos negativos dessas substâncias bem como disponibilizar orientação e encaminhamento para um tratamento adequado, se for o caso.
Assim, na legalidade ou na ilegalidade a ação político- social-educativa é a mesma: a redução de danos. O que se pretende com isso não é incentivar o consumo, mas a conscientização e diminuição dos seus efeitos e danos ao orientar os usuários em relação ao uso. Não se pretende aqui desconsiderar ações ferrenhas de combate às drogas nem, tampouco, fazer apologia ao seu consumo indiscriminado. Mas sim sinalizar a importância de se conhecer e analisar o contexto sócio-cultural onde se dá o uso das drogas para uma intervenção eficaz.
Desse modo é que destacamos a atuação significativa do Coletivo Balance-Redução de Danos que não é uma ONG e sim uma coletividade tendo por objetivo exercer um conjunto de ações a partir de uma linha educativa e de saúde na intenção de diminuir os efeitos maléficos do uso das drogas. O foco principal está então na relação usuários-substâncias psicoativas, nesse sentido, o grupo adota a linha dos profissionais de saúde e ciências sociais para a compreensão sensível e não preconceituosa pautada no acompanhamento e na orientação desses sujeitos, em oposição às posturas essencialmente repressoras e extremistas.
O Coletivo Balance-Redução de Danos tem como público alvo os freqüentadores da cena trance. São jovens entre 15 e 30 anos de centros urbanos provindos das classes média e alta. Sua atuação ocorre no âmbito das festas e festivais abrindo espaços para uma interação com os jovens durante os eventos. Portanto, a intenção é criar espaços de interação para que os jovens possam discutir e relatar suas vivências e experiências com as drogas e onde o grupo Coletivo pode disponibilizar informações a respeito do uso e efeito das substâncias consumidas.
Pensar que apenas o discurso “não use drogas” vai fazer com que numa festa os jovens não consumam drogas como álcool ou cocaína, por exemplo, seria muita hipocrisia e ingenuidade. O discurso puramente proibicionista apoiado na repressão acompanhada de uma visão preconceituosa não diminuirá o consumo. Por isso, uma postura que pudesse reduzir os danos causados aos indivíduos priorizando, assim, o cuidado de si é essencialmente válido.
O Coletivo Balance ressalta: “Não devemos confundir as estratégias de redução de danos com incentivo ao uso indevido de drogas ilícitas, pois se trata de uma estratégia de prevenção”. O que se pretende é exatamente isso: prevenir. Por serem bastante significativas ações como estas é preciso também que haja uma atuação junto às classes mais desfavorecidas provenientes das periferias e favelas de onde se irradia todo o sistema de vendas e consumo de drogas, portanto, se faz necessário expandir essa ação de modo a atingir maiores públicos que geralmente sequer são ouvidos.
Referências consultadas:
MACRAE, Edward. Aspectos socioculturais do uso de drogas e política de redução de danos. Núcleo de estudos interdisciplinares sobre psicoativos. Disponível em: < http://www.neip.info >. Acesso em: 20 abr. 2007.
BUCHER, Richard; OLIVEIRA, Sandra. O discurso do “combate às drogas” e suas ideologias. Rev. Saúde Pública, n. 28, 1994. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rsp/v28n2/08.pdf >. Acesso em: 20 abr. 2007.
Material informativo sobre o Coletivo Balance-Redução de Danos.
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